Quais são os desafios que temos hoje em função desse tema? Como se posicionar? Como lidar com um ambiente que não está preparado para lidar com a gente?

Por Carine Roos, cofundadora da ELAS e especialista em Desenvolvimento de Mulheres

Me formei em ciências sociais e jornalismo e estava frustrada quando saí das duas graduações. A partir daí, tive o insight de direcionar toda a minha carreira para a área digital. Depois de um tempo, percebi que independentemente da área, meu desafio não era com mulheres.

Geri alguns projetos e sempre me senti muito à vontade com as mulheres. Porém, quando o tema era liderar homens, o desafio era grande. Já tive minha capacidade intelectual questionada, ideias invalidadas, colegas querendo me ensinar o que falar, piadas machistas falando que eu estava “naqueles dias”… Quantas de nós já passamos por isso em um contexto de trabalho?

Infelizmente, a área de tecnologia – assim como a financeira, por exemplo, entre tantas outras – é muito masculina. As micro-agressões diárias fizeram com que eu começasse a perder minha identidade e essência. Comecei a desacreditar em mim mesma e fui atrás de pós-graduação e MBA para acabar com essa sensação, além de terapia e cursos de autoconhecimento para resgatar a minha identidade.

No entanto, minha virada de chave foi encontrar outras mulheres e escutá-las. Elas relatavam exatamente o que eu passava no ambiente e eu entendi que não era uma inabilidade minha: era uma questão estrutural que ia muito além da minha experiência individual.

Fomos criadas em uma sociedade machista e, portanto, homens e mulheres também aderem a comportamentos nesse sentido. O que precisamos fazer para hackear o sistema? Primeiramente, nos unir e nos fortalecer para perceber a sutileza do machismo no dia a dia do trabalho. Com base em minha experiência pessoal e profissional e após uma troca rica com mais de 8 mil mulheres em busca de autoconfiança e desenvolvimento, reúno aqui algumas dicas práticas sobre o que fazer quando:

• Alguém (normalmente um homem) te interrompe:

A prática é denominada manterrupting. Significa que um homem interrompe a fala de uma mulher com frequência – muitas vezes a ponto de ela não conseguir concluir o seu raciocínio. Então, perceba se você frequentemente interrompe e se é interrompida. A dica básica é: se posicione e avise que você ainda não concluiu a sua fala – não tenha medo de se colocar. É importante concluir o que você queria dizer e mostrar às pessoas que elas foram indelicadas. Agir dessa forma não somente trará mais respeito a sua fala, mas também fará com que as pessoas do ambiente estejam mais atentas quando outras mulheres também forem interrompidas.

• Seu colega tenta te ensinar sua área de atuação:

Denominada “mansplaining”, a prática consiste em colegas querendo te ensinar coisas óbvias da sua especialidade. Quando isso acontecia comigo, muitas vezes eu ouvia e concordava. Novamente, não tenha medo de se posicionar: traga resultados para a mesa. Se você tiver dados sobre a sua fala, exponha-os e mostre que, além do conhecimento teórico, você domina a prática do tema apresentando números e informações concretas.

• Seu colega dá a mesma ideia que você e é creditado por ela:

Eis que você dá uma ideia e nada. Um homem dá a mesma ideia e todos o apoiam. Opa, algo está errado! Aqui, minha indicação é falar: “nossa, que bom que você gostou da minha ideia” ou “que bom que estamos alinhados”. Quando governava os Estados Unidos, a equipe do Barack Obama implementou a estratégia de Amplificação nas suas reuniões, que consiste em mulheres reforçarem ideias de outras mulheres. Na prática, isso significa aprender a ter aliados no seu ambiente, ter estratégia. Aqui é importante pontuar que seus aliados também podem ser homens sensibilizados com o tema.

• Te dizem: “você está de TPM?”

Nós, mulheres, somos taxadas como emotivas e muitas pessoas atribuem isso a nossos hormônios. Isso é uma violência simbólica extrema. Na Escola ELAS, ensinamos que nossas emoções são nossas forças. Também entendemos que se formos mais assertivas, seremos vistas como agressivas. Se ficarmos quietas, não seremos vistas como líderes. A dica aqui é importante, então, leia com atenção: quando alguém diz que você é desequilibrada ou louca, apresente dados e fatos. Por exemplo, um colega não cumpre um prazo e você está brava com ele e você é vista como descompensada. Então, tire a atenção de você e exponha o fato: o desconforto tem a ver com o contexto e o comportamento do quem não cumpriu o prazo conforme previsto.

Quais são as batalhas que você quer travar? Proteja os seus valores inegociáveis para você não se ferir. Respeitando a sua essência, você também servirá como inspiração para outras mulheres!

#CHEGADEMACHISMO