Descobertas – Parte I
Luciana Sena
Cerca de uns 20 dias atrás estava fazendo um calor insuportável em Paris, e quando víamos sol, céu azul e termômetros marcando acima de 35 graus a primeira coisa que passava pela nossa cabeça era água, muita água, mais água e sombra fresca! Não faltam piscinas públicas espalhadas pela cidade, verdade seja dita. Mas praia, o cheiro e o barulhinho bom do mar, não tem igual, né non? Mas estamos em Paris…E aí?
Assim como em BH, em Paris não tem mar. Mas podemos chegar bem rapidinho em algumas praias que ficam no oeste da França. A famosa Deauville, conhecida como a praia dos parisienses fica à 2h da capital. Um número considerável de parisienses tem casa em Deauville assim como em Trouville-sur-mer ou em Villers-sur-mer, dentre outras que ficam à beira do Canal da Mancha.
Estas cidades estão na Normandia, região protagonista de inúmeros marcos históricos. É a região da Guerra dos Cem Anos, de toda uma cultura medieval em forte recuperação através de festivais e feiras, reduto de artistas impressionistas e peça fundamental durante o fim da Segunda Guerra Mundial após o desembarque das tropas aliadas que derrubaram o Terceiro Reich e liberaram a França dos nazistas.
Ao longo do ano o número de visitantes é enorme. A região atrai em especial muitos ingleses e americanos, pois eles fazem parte da história dela em vários períodos diferentes. As estradas entre Paris e a Normandia, sobretudo sexta-feira e domingo à noite vivem cheias. É preciso se organizar para ver e viver experiências tão diferentes e ricas.
Como estávamos querendo dar uma escapadinha de Paris, escolhemos esta região por vários motivos. O primeiro foi a oportunidade de ver o mar, o segundo conhecer algumas cidadezinhas como Lisieux, Bayeux e Honfleur e o terceiro reviver, através de inúmeros monumentos, um dos maiores momentos históricos mundiais: o Dia D – 6 de junho de 1944. E aqui vou escrever um artigo especial, pois foi uma escolha bem pessoal ligada à história do avô do Christian – mon amour – que era reservista das forças armadas francesas e por ser da Alsácia, se viu de um dia para o outro, imediatamente após a ocupação, obrigado à servir ao Terceiro Reich. Uma história, como tantas outras, que marcou toda a família por gerações.
Catedral de Lisieux da Santa Terezinha (interior)
Pois bem: Saímos no sábado, dia 01 de julho bem cedo em direção à Lisieux, onde fica a Basílica de Santa Teresa de Lisieux, que é o segundo mais popular destino de peregrinação na França depois do Santuário de Lourdes. Nascida Marie-Françoise-Thérèse Martin, Santa Teresa de Lisieux foi uma freira carmelita descalça francesa conhecida como um dos mais influentes modelos de santidade para católicos e religiosos em geral por seu “jeito prático e simples de abordar a vida espiritual”. Juntamente com São Francisco de Assis, é uma das santas mais populares da história da Igreja. O papa Pio X chamou-a de “a maior entre os santos modernos”.
Uma das maiores igrejas do século XX, sua construção começou em 1929 e foi consagrada em 1954. Os seus muros e os da cripta estão cobertos de mosaicos que invocam a mensagem de Santa Teresa, baseada no amor infinito de Deus. Sob a cúpula encontram-se as relíquias da Santa. Em frente à Basílica, no subsolo, encontra-se o Centro de Acolhimento Pastoral Internacional (CAPI) com um extenso espaço de livraria, exposições e salas de conferências. A projeção de filmes é quotidiana. Dotada de 51 sinos, totalmente cromática e com grande qualidade sonora, está entre as mais belas da Europa. Lá, tem uma capela dedicada ao Brasil!
Catedral gótica de Lisieux que “sobreviveu” às bombas nazistas
Em seguida, visitamos a cidade de Lisieux. Durante a visita, eu estava achando tudo lindo e o Christian a achou meio feinha, falou que eu iria ver outras cidades e acabaria concordando com ele, só respondi: – aham…(hunpf, ele estava certo..rs…). Voltamos para a estrada em direção à Bayeux que é uma cidade do departamento de Calvados, na região da Baixa-Normandia. A cidade dá o seu nome à famosa Tapeçaria de Bayeux, que relata a conquista da Inglaterra pelos Normandos.
O Cemitério da Guerra de Bayeux com o seu memorial inclui o maior cemitério britânico que data da Segunda Guerra Mundial na França. Há 4.648 sepulturas, incluindo 3.935 britânicos e 466 alemães. A maioria das pessoas enterradas lá foram mortas na invasão da Normandia. Essas informações estão em todas as esquinas, a lembrança ainda é muito forte e marcante.
Catedral Notre Dame de Bayeux, detalhe da cripta da Catedral
Mas não fomos para lá por este motivo e sim para visitar a Tapeçaria de Bayeux, que é um imenso tapete bordado, datado do século XI, que descreve os eventos-chave da conquista normanda da Inglaterra por Guilherme o Conquistador, notadamente a batalha de Hastings (14 de outubro de 1066). 950 anos depois, em 2016, esta batalha foi reconstituída e encenada. Muitos fãs do período medieval marcaram presença, foi lindo!
A tapeçaria tem um inestimável valor documental acerca do século XI na Inglaterra e na Normandia, incluindo vestuário, castelos, navios e condições de vida da época. Nesse sentido, constitui-se em um raro exemplo da arte românica profana. Atualmente a obra se encontra no Musée de la Tapisserie de Bayeux, e está inscrita desde 2007 na Memória do Mundo pela UNESCO. É de uma beleza, delicadeza, técnica e riqueza impressionantes! Fora a emoção de ver algo tão bem feito e conservado com todo cuidado.
Enfim, este é apenas um texto de uma série de três. Em dois dias foram tantas e diferentes descobertas que, quando o Christian me perguntou do que eu mais gostei, eu não soube responder. Estávamos trabalhando juntos e ao começar a escrever este artigo, devolvi a pergunta e ele também não soube responder. Nós adoramos tudo, é difícil mesmo escolher. Vimos um pouco de tudo e muito longe de tudo que tem no Brasil. Vi coisas que só havia visto nos livros de história da época da escola e que jamais pensei em ver pessoalmente, de tão distante que é ou era da minha realidade.
Casa típica medieval em Bayeux
A viagem me proporcionou aprendizado e encantamento. Semana que vem vou tentar descrever em detalhes como foi o desembarque na Normandia e tomada da Ponte Pegasus, como marco principal da estratégia militar montada pelas tropas aliadas.
Boa semana e até breve,
Lu Sena