Conheci Valéria Mansur na penúltima edição do Minas Trend. Na época, ela participava do concurso Ready To Go e ganhou o primeiro lugar. Eu fui uma das pessoas que votou nela, pois me apaixonei pela modelagem das suas roupas e pela sua simpatia. Durante meses ensaiamos essa entrevista e em uma tarde de outono consegui me encontrar com essa grande estilista e linda mulher.

eu e vmVocê sabe que sou sua fã e gostaria de começar sabendo um pouco da sua trajetória. Como começou e como chegou na maravilha que é hoje?

Trabalho com moda há vários anos, já tive marca, já tive loja, trabalhei com outras pessoas, já fiz estilo em outros lugares. No final de 2014 resolvi ter uma marca minha, com meu nome, do meu jeito, com a minha identidade, bem autoral. Porque às vezes a gente fica presa no comercial e pensei: vou fazer uma marca com a minha cara e vai ter mercado sim. Fiz essa aposta inicialmente em ser algo pequeno, exclusivo, com  tecidos de fibra natural, de fábricas nacionais e no formato atelier. E tem dado muito certo, pois o cliente foi me encontrando.

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Como foi a participação no Ready to Go, como uma redescoberta?

O Ready to Go, nesse meio,foi uma grande surpresa. Já haviam me convidado antes, mas a primeira vez não pude participar, pois foi muito em cima da hora e eu não tinha um mostruário completo da maneira que eu gostaria de apresentar. Depois eu fiz um mostruário bem focado, que contava uma história e fui. Posso dizer que foi incrível, para mim foi maravilhoso e deu uma virada na minha vida, na minha história. O projeto é muito bacana e a Terezinha tem um olhar apuradíssimo e faz uma curadoria muito legal, devido a sua grande experiência de mercado. Desde o primeiro encontro até chegar no Minas Trend é um caminho muito interessante, pois ela vai ditando um rumo, ganhamos muitas dicas e recebemos o caminho das pedras, um norte mesmo. Ela é uma figura fundamental e ajuda super a gente.

No Minas Trend passado ganhei o primeiro lugar e realmente deu um boom. A Consuelo ( Blocker) conheceu minha coleção exatamente por causa da Ready e ela adorou tudo e encomendou várias coisas, fez um pedido e já começou a usar e foi muito rápido. Talvez, se eu fosse mais uma expositora, ela não tivesse me conhecido. Com isso, a marca começou a se espalhar e, nesse ano, ganhei o estande  e já expus, que também foi um super sucesso.

Fiz uma coleção bem direcionada, os clientes se identificam porque tem a ver com a pessoa. As parcerias tem que ser feitas com pessoas que tem a ver com a minha marca, tem que ter a minha cara. Como as minhas peças são bem minimalistas, as pessoa se encantam de cara ou não. Mas estou super feliz de fazer roupas que gosto.

cbvmO minimalismo, em contraponto com os bordados, de marcas como a sua e Jardin estão conquistando outra parcela do mercado. Você fez algum curso de empreendedorismo ou só usou a sua bagagem?

Foi só instinto. Rs…Claro que errei muito, mas também já acertei bastante, tive uma trajetória super bacana com a minha primeira marca, mas não tinha essa mesma pegada. Ela se chamava FORMAS que era só minha. Depois tive uma loja – CUBO – com duas sócias e depois fiz um tempo de estilo para outras pessoas. É uma longa trajetória, essa não foi minha primeira coleção, nem a segunda, terceira, décima… Rs…Mas é um novo olhar, tanto que coloquei o meu nome. Realmente é autoral, com meu DNA, com minha cara. É o que eu acho que dá o maior prazer.

valeria m2Você acredita que esse é um novo caminho – do autoral, dos nichos específicos –  ou acredita que as multimarcas vão continuar ?

Talvez, não sei. Acho que estamos no meio do furacão. O mundo está em plena mudança, desde a internet, formas de comunicação, meios de divulgação… Acredito que daqui há alguns anos essa época vai ser estudada como a hora da grande virada. Nós vamos fazer esses novos caminhos, mas não sabemos onde isso vai parar. Tá na hora de ter um feeling, agir por instinto e apostar. As coisas estão mudando muito rápido e não temos histórico. Então é acreditar no que somos e ir em frente.

vm2O mundo da moda não pode mais ser mesmo tão fugaz, por questões de grana e sustentabilidade. A duração é item essencial e o atemporal também. Como você imprime isso nas suas coleções?

Eu não quero que as minhas coleções tenham datas. A anterior – Fios – e a atual – Velas, tem coisas que quero que permaneçam, não quero tirar de nenhuma delas. As coleções não se sobrepõe, elas tem a mesma linguagem e conversam. Mas as coisas não devem andar no ritmo frenético do fast fashion. E gigante. Não é a minha vontade. Precisamos ser conscientes, comprar coisas bacanas, que a gente goste. Ok, não teremos roupas eternas porque a gente enjoa, mas as peças precisam ter uma vida longa. Não adianta ter um monte de coisa só para encher o armário, elas  precisam ter uma qualidade e ser usáveis. Eu gosto de saber sobre como a roupa é na ponta, ter um  feed back , saber sobre a vida útil dela. As pessoas me dizem que usam muuuito a minha roupa. Aí, já valeu!

vm3As pessoas que estão chegando no mercado estão preparadas para essa nova visão?

Eu acho que as pessoas estão entendendo essa nova visão, pois está muito claro. Tá tudo mudando, marcas tradicionais fechando, referências se diluindo. E aí, precisamos acompanhar a mudança,temos que acompanhar o mercado, temos que nos adequar ao novo formato. E as pessoas já perceberam isso. Valorizar o trabalho, a criatividade e a preocupação com a sustentabilidade justa é o mais importante. Não é o preço que vai fazer a diferença, pois aí alimentamos uma rede absurda. Quando existe um diferencial, você começa a reverter o processo.

vm4 Como você vê os blogs de moda e os extremos entre blogueiras e jornalistas?

Acho que  os blogs tradicionais estão perdendo espaço para Instagram, Snapchat, vídeos. Mas quem tinha um blog de moda que bombava, também está nas outras mídias e plataformas com também milhões de seguidores. Mas está tendo menos conteúdo e mais imagem. Então a coisa está se sustentando só com imagem. Mas, como disse, estamos no meio do furacão, então não dá para saber.

E percebo também que cada vez mais as blogueiras estão virando modelos. Com exceções, como a Consuelo Blocker que escreve sobre política, moda e tem uma cultura de moda – afinal, ela nasceu no meio, dentro de uma tecelagem e é filha da Constanza Pascolato  -e realmente entende do que fala. Mas no veiculo Instagram elas estão virando modelos, pois estão cada dia mais produzidas, mais uau e são it girls que vendem imagem. Sobre cultura e história da moda e também a crítica, isso cabe aos jornalistas. As blogueiras vendem e despertam o desejo, às vezes muito mais do que um editorial de moda da Vogue, mas para um público que não busca o conteúdo de moda. É a imagem, o jet set e o life style que vende. São modelos, que ocupam o lugar no imaginário dos pobres mortais com toda a sofisticação. Mas quem quer conteúdo não é o mesmo publico que procura esse tipo de imagem, então tem espaço para todo mundo.

vm5Qual é o seu próximo passo, sua inspiração?

Estou ainda entregando o inverno, vendi o verão – além do que eu podia – e preciso me preparar para entregar isso tudo, respirar e ver exatamente quais serão os próximos passos. Realmente ainda não sei, pois preciso cumprir esses compromissos e tenho que sentir como será esse aumento com qualidade – pois é o que mais referencia a minha marca e não posso descuidar. Então, estou esperando como isso vai acontecer. A princípio, com essa expansão, eu penso em loja, mas não tenho certeza.

Com relação a novas coleções – inverno 2018 – já comecei a pensar – mas tudo pode mudar. Já fiz algumas pesquisas e a vontade é de explorar as tramas, mas entrar com outros materiais, como uma mistura de texturas, com uma outra pegada. Afinal, a pesquisa é constante e a gente não para.

Alguém duvida que será mais um sucesso?

 

 

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