O 24º FUMEC FORMA MODA, que já faz parte do calendário fashion de Belo Horizonte, será realizado no dia 13 de dezembro, 20h, na torre Alta Vila, para apresentar o TCC- Trabalho de Conclusão de Curso – de 15 formandos do curso de Design de Moda da Fumec. Talento e muito trabalho em mais uma noite memorável!
Os desfiles contam com uma produção profissional, encampada por instituições e nomes conceituados no mercado, como a Voltz Design, representada por Alessandra Martins, e encarregada da coordenação geral e produção executiva do evento.
A concepção do 24º FUMEC FORMA MODA é dos professores Antônio Fernando Batista dos Santos, coordenador do curso de Design de Moda, e Rosângela Brandão Mesquita. E o projeto do conjunto montado no quarto andar da torre Alta Vila, incluindo a sala de desfiles, da arquiteta Isabela Vecci.
Rodrigo Cezário assina a direção dos desfiles e Cacá Zech a beleza (cabelos e make up). Nos desfiles, o vestuário feminino sobressai, destacando-se os segmentos de moda prêt-à-porter, casual, beachwear e acessórios.
As alunas Mariana Figueiredo e Raíssa Cunha optaram por apresentar, respectivamente, um documentário e uma exposição. Vai ser um luxo!
FORMANDOS E COLEÇÕES
Coleção Null & Filled
Foto: Luiza Ananias
As normas heteronormativas possuem um domínio que se estende aos hábitos de consumo e ditam como e o que se deve consumir. Nos supermercados as prateleiras são recheadas de produtos rosa “para ela” e produtos azuis “para ele”. As lojas de departamento são segmentadas por sexo e o resultado disso é necessariamente um mercado excludente.
A coleção Null & Filled de Mariana Lucchesi surge a partir dessa temática com o objetivo de criar uma roupa liberta de estereótipos. Mesclando estéticas antagônicas que permeiam entre o feminino e masculino, o maximalismo e o minimalismo. O conjunto tem como tecido base à malha de tricô que é explorada tanto sozinha ou com couro. A cartela de cores vem de antemão à estética genderless minimalista: é alegre e se manifesta em forma de blocos, listras e jacquard. Os destaques são as mesclas entre os tons de azul, bege, vermelho e preto.
Mariana Costa
Coleção Sobre Viventes
Foto Luiza Ananias
Sobre Viventes, a coleção experimental de moda da designer Mariana Costa, traz como perspectiva de análise a relação do corpo do morador de rua com o espaço urbano, a partir das fotografias de Lee Jeffries – fotógrafo que fez retratos de moradores de rua. Um dos diferenciais dessa coleção, o que a torna atrativa, são os materiais empregados nas peças. O sombrite, conhecido como tela, usado em estufas para proteger as plantas da exposição excessiva à luz solar e o calor, é um dos materiais inusitados empregados nas peças, tendo sido tricotado e crochetado. Ao tecido organza foram agregadas, através do uso da serigrafia, expressões faciais desses moradores de rua, nas quais podem ser vistas as marcas que o espaço urbano causou a eles. Essas expressões foram retiradas de fotos feitas pelo fotógrafo Jeffries. Por fim, foi utilizado nas peças, o cobertor popular, refletindo a identidade dos moradores de rua.
A cartela de cores é constituída por preto, cinza, marrom e off white. A coleção é composta de várias sobreposições e tecidos rasgados em formas de fitas, mais parecidos com trapos; esses dois aspectos dão volumes às peças, sendo que o primeiro faz uma referência ao morador de rua, que faz do seu próprio corpo seu meio de carregar seus objetos, enquanto o segundo remete à sua própria roupa.
Coleção Narciso
Foto: Célio Alves
A coleção Narciso aborda um assunto restrito e pouco divulgado: o don-juanismo feminino. Embora seja o homem sempre o apontado como o vilão, nesse caso será ela, a mulher don-juan, que se mostrará poderosa, engenhosa, hábil, perspicaz e irresistivelmente manipuladora e sedutora
Com o intuito de se mostrar e seduzir, a mulher don-juanista atrai o espectador e, ao mesmo tempo, o repulsa com suas roupas que funcionam como verdadeiras armaduras.
Através do plissado, esconde o corpo; nas transparências, se expõe e seduz; e para manter o mistério, usa o bordado irisado, que camufla e prende a atenção.
Coleção Opostos Complementares
Foto: Filipe Rivelli
O contraste entre matérias-primas foi o ponto de partida para a criação da coleção de roupas e acessórios Opostos Complementares, que levam a assinatura de Olívia Curty. A jovem estilista explora a beleza do trabalho manual, que aparece em crochê desenvolvido com ráfia e tricô que imita pele, aliados a tecidos de alfaiataria e couro ecológico. Uma textura exclusiva em conjunto com as tramas rústicas da tom à sofisticada concepção das peças. Assim como a luz e a sombra, os contrastes se completam também na moda. As modelagens minimalistas são combinadas com diferentes superfícies e cores e as transparências surgem através das tramas. Brincos e braceletes em resina e bolsas, que unem ráfia e acrílico, arrematam a coleção.
Coleção I.lludo
Foto: Filipe Rivelli
A moda assim como a arte é uma forma de expressão e elas andam juntas em diversos momentos na história. Inspirada em técnicas de trompe-l’oeil a designer Bárbara Maldonado lança sua marca Maldô e apresenta a coleção de calçados I.lludo, criando formas que não existem realmente.
A coleção pretende romper os limites entre imagem e realidade buscando novas sensações. O trabalho em tela de pintura e tinta acrílica apresenta um novo conceito na fabricação de calçados e agrega às peças, cuidadosamente pintadas a mão, valores artísticos inovadores.
Direcionada ao público que valoriza a experimentação, aprecia arte e consome design, a I.lludo preza também pelo conforto em seus calçados. A cartela acromática varia entre o preto, branco e prata, que remetem a truques de perspectiva, luz, sombra e intensificam a sensação de ilusão.
Coleção Singularidades
A coleção Singularidades da designer Ana Luiza Faria traz a moda como elemento essencial na construção da imagem e identidade do indivíduo. Como o conceito de beleza é mutável, é através da moda que se fará a percepção da beleza. Pretende-se, assim, consolidar na prática tais conceitos, consubstanciando-os em uma coleção de moda praia.
A indagação é sobre como esse estilo se imprimirá de forma tão significativa nos remetendo à discussão sobre os padrões de beleza vigentes. Desta forma, são apresentadas peças cuja modelagem valoriza o corpo da mulher, através de criações originais, tecidos de qualidade, que tragam conforto e bem-estar à consumidora que não se enquadra no biotipo padrão. A coleção Singularidades se diferencia pela modelagem adequada para cada tipo de corpo, com recortes inusitados, em um jogo de “mostra-esconde”, fazendo com que todas as peças tenham um ar sensual e feminino.
Coleção Resiliência
Foto: Luiza Ananias
re.si.li.ên.ci.a. substantivo feminino; 1.(figurado) Capacidade de superar, recuperar de adversidades.
Sinais de desgaste começam a surgir e o despertar de uma mentalidade mais consciente torna-se necessária. É com este olhar que a designer Letícia Reis desenvolveu a coleção Resiliência, em que propõe soluções de design com o intuito de reduzir os impactos provenientes da indústria da moda e com isso promover uma conexão mais ampla entre homem e natureza. A coleção explora uma cartela acromática com diferentes nuances de cinza e off-white. Tecidos são manualmente desenvolvidos por meio do acúmulo de materiais como linhas e tiras de refugos têxteis. O corte reto da alfaiataria e a modelagem oversized se misturam harmonicamente entre as peças. O uso de resíduos têxteis e fibras naturais foram alternativas encontradas pela designer a fim de contribuir com o desenvolvimento sustentável da moda. O resultado é um conjunto de peças originais e alinhadas com as questões contemporâneas.
Coleção Impacto
Foto: Henrique Silva
Consumo consciente, busca por alternativas e o minimalismo. Conceitos que desencadearam fenômenos sociais na década de 1970 trazendo reflexões por meio dos movimentos anticonsumistas e de contracultura. Baseada nos modelos de libertação e de simplicidade, a coleção Impacto da designer Victória Brasil traz para o cenário da moda uma leitura de sustentabilidade aliada e inspirada no conceito setentista.
Influenciados pelos movimentos vanguardistas, os tecidos de fibras naturais, como o linho e a seda, trazem fluidez e leveza às peças, os shapes reforçam a sutileza da coleção, enquanto os tingimentos desenvolvidos com flores, plantas e sementes enriquecem os tecidos com suas tonalidades provenientes da natureza. A inspiração também se revela nos elementos do styling, como os tamancos em madeira crua e os acessórios criados com materiais reaproveitados.
Coleção Axial
Foto: Júlia Lego
A coleção Axial apresenta dualidade de formas e estética marcante. A justaposição de técnicas exatas com fluidez está presente no trabalho do designer Rafael Rêgo. A análise dos traços intrigantes das ilustrações científicas gerou conceitos de precisão e organicidade que, sobrepostos, deram origem ao trabalho.
Por definição, Axial se refere a eixo, que permeia as peças com rigor simétrico. A cartela de cores é composta por tons de marrom e preto, gerados a partir das aquarelas e do nanquim usados nas ilustrações. A partir deles, surgem os tecidos em organza, couro, zibeline, adornados por zíperes e plissados, que conferem mais complexidade e beleza às peças.
A equação que soma riqueza de detalhes, precisão e objetividade é suavizada com traços orgânicos, um contraponto à matemática exata do design – o zíper pode dividir um item em dois, em uma simetria impecável, mas também aparece desconstruído em formas fluidas.
Coleção Mutação
Foto: Mariana Rodrigues
Qualquer alternância em uma determinada estrutura é conhecida como mutação. Vivenciar mudanças requer esforço, sacrifício, renúncias, doação, entrega e equilíbrio.
Na vida em sociedade, os seres são igualmente regidos por modelos, padrões, normas, regras e leis. As formas de lidar com os estranhos e, consequentemente, com a diferença, é paradoxal. Tem-se construído maneiras de eliminação dessas diferenças através da construção de uma política de afastamento daqueles que são considerados estranhos ou fora dos padrões. Em outras palavras, constrói-se um novo sentido social acerca da normalidade pautado por um tipo de “opinião pública” potencialmente inclusiva, mas concretamente excludente.
Inspirada por esses sentimentos, a designer Clara Andrade cria em sua coleção uma nova maneira de ver o ‘diferente’ através de construções rígidas contrapondo com estruturas delicadas e perfurações orgânicas. Adaptações são criadas na utilização de tecidos e formas na busca de uma alternativa para a mutação, a ressignificação e a inclusão.
Coleção O quinto elemento
Foto: Mariana Rodrigues
O caos na sua forma elementar é definido como a variedade individual criativa dentro de um padrão geral de similaridade. Inspirada nesse aspecto desfragmentado, mas não totalmente desordenado, Carla Amorminio aborda o lado sombrio e agridoce do caos na coleção O quinto elemento. Com foco na urbanização desordenada, no acúmulo e nos emaranhados da psique, a designer busca nos fractais uma geometria oculta de todos esses processos.
A busca pelos opostos se dá com shapes conflitantes e mistura de tecidos como seda pura, tule illusion, renda guipir e plástico. A paleta acromática mostra que, entre o preto e o branco, existem infindáveis tons possíveis e imprevisíveis. Os bordados realizados em grande quantidade representam o acúmulo e as androginias dos modelos são a linha-guia de toda a coleção.
Assim, a designer não teme falar do desconforto que o imprevisível nos causa e ousa sugerir uma nova definição de belo que emana dele. Que do caos nasçam flores!
Jéssica Hannuzi
Coleção Tessituras em trânsito
Foto: Luiza Ananias
Em um mundo cada vez mais violento, o medo torna-se constante e interfere diretamente no estilo de vida da sociedade e na arquitetura da cidade, que vê na adoção de estruturas de proteção uma possibilidade para aumentar a segurança.
A coleção Tessituras em trânsito, criada pela designer Jéssica Hannuzi, discute o contexto do conforto do indivíduo urbano: proteção, mobilidade e multifuncionalidade. A designer utilizou-se do crescente interesse do ser humano por proteção para estabelecer paralelos entre a arquitetura, a moda e o gerenciamento da aparência.
Por meio de tiras de viés dublado presos por rebites, Hannuzi cria uma nova trama que se transforma adquirindo mobilidade quando vestida. Inspirada nas estruturas de proteção presentes na arquitetura urbana, a designer utiliza dessas tiras e de estampas para fazer alusão ao excesso de cercas e cadeados existentes nas propriedades. As diferentes texturas geradas pelo uso da organza e do suede remetem às diferenças sociais.
Coleção Identité
Estúdio Caxapreta
Despidos de roupas, alma e identidade. Transformados em números, estatísticas. Do incômodo a dor. Da sobrevivência ao retorno à sociedade e a reconstrução do eu.
A designer Raquel Felicetti, na coleção Identité, discute a perda e a reconstrução da identidade vivida em situações extremas, de conflito, de privação, de sofrimento.
Para lembrar, com a esperança de que jamais se repitam, ela aborda em três looks a evidência da nudez e a exposição do corpo.
O couro é usado para representar a pele e sua resistência.
O tricô de fios grossos e pesados, tecido em agulhas sob medida, remete à nudez forçada e ao incômodo causado por ela.
A coleção foi confeccionada em tons terrosos para remeter a todos lugares e a lugar nenhum, a vários conflitos e aos mais específicos, grandes ou pequenos, massivos ou particulares.
Coleção Pesada Leveza
Foto: Luiza Ananias
Com a informação circulando em segundos, o imediato é uma palavra de ordem e a reflexão e concentração são colocadas em segundo plano. Com a coleção Pesada Leveza, a designer Luana Coutinho aponta o tempo como conceito-chave para a contemporaneidade: por estar cada vez mais escasso, torna-se luxo. Caimentos e acabamentos traduzem, junto a tecidos criados manualmente, atenção principal especial a um tempo de delicadeza, exclusividade e dedicação, enfim, do único. O cuidado da textura até o forro indica a necessidade de leveza no nosso cotidiano, enquanto a predominância do branco refere-se ao passado, ao leve.
Coleção Conecto
Foto: Filipe Rivelli
Conecto, coleção desenvolvida pela designer Paula Lopes, destaca o minimalismo/maximalismo, é inspirada nas relações das pessoas com a internet e redes sociais e foi desenvolvida com processos tecnológicos e manuais. Com a intenção de abordar o tema sem cair no futurismo, a cartela de cores e tecidos foram escolhidos a dedo. Com tons sóbrios, tecidos nobres, corte e modelagem perfeita, a alfaiataria ganha novo sentido e se torna muito mais jovem por causa dos decotes e comprimentos. Conceitos como a rede, a tecnologia, o fio e a abertura são apresentados de forma clara nas peças.
A coleção Conecto é uma ironia ao intenso uso da internet na contemporaneidade, o uso indiscriminado das redes sociais, rede e smartfones. A mudança na rotina das pessoas que se tornam influenciáveis ou egocêntricas e que perdem horas do seu dia buscando wi-fi ou simplesmente uma tomada.
DOCUMENTÁRIO
Mariana Figueiredo
Projeto Entranhas – O corpo subjetivo
Particularidade, íntimo, sensibilidade e essência foram os alicerces utilizados para a materialização do documentário e dos registros do projeto Entranhas, realizado pela designer Mariana Figueiredo. Entranhas possui o propósito de enfatizar indivíduos que utilizam o corpo como território existencial de forma peculiar, seja por meio das maneiras de se vestir e se adornar ou de interferir sobre a carne, produzindo modos de ser e exaltando a sua subjetividade. O tema parte de uma inquietude particular que a designer carrega consigo a respeito do outro e das diferenças.
O documentário é composto por três personalidades distintas: Margareth da Silva, Fairuze Reis e Rodrigo Caetano, sujeitos que narram suas histórias em ambientes que são particulares de cada um. Essas personagens são valiosas para a análise das relações do corpo, moda e subjetividade na construção da imagem do eu, com amplos efeitos de significação. É um corpo que é aceito, não-aceito, reconstruído, modelado, modificado, exibido, que esconde, revela, seduz e protege.
Para fundamentar o objeto da pesquisa foram realizados estudos sobre o tema e logo foram aplicadas as etapas metodológicas para criação, como a elaboração de conceitos e pranchas experimentais. Linha, agulha, diferentes tipos de suportes, colagens e nanquim são marcas registradas para o processo criativo da designer.
Ficha técnica
Direção e concepção: Mariana Figueiredo
Entrevistados: Margareth da Silva, Fairuze Reis e Rodrigo Caetano
Fotografia/ Vídeo/ Trilha: Estúdio Caxapreta
Orientação: Carla Mendonça
EXPOSIÇÃO
Raissa Alves Cunha
Projeto VENA – Imperfeita pele invisível
Tomemos por uma metáfora a palavra “superfície” como extensão primordial do indivíduo, um meio pelo qual o vemos e nos relacionamos com ele, sua pele e o seu corpo. Essas marcas gráficas corporais – como manchas de nascença, o envelhecer da pele ou profundas cicatrizes – estejam elas vinculadas ou não a uma vontade do sujeito, acarretam profundas marcas sociais, coletivas ou que individualizam o ser.
Tratar a pele como superfície nos revela inúmeros estigmas associados a essa relação e a proposta contundente de que a mesma se faz presente. O projeto VENA – Imperfeita pele invisível, de Raíssa Cunha, tem como intuito aliar o design de superfície com estampas e texturas orgânicas à exposição, em objetos que transitam pela moda para falar da pele e sua relação com o estigma.
Esse entrelaçamento entre pele e estigma se revela em estudos de diferentes materialidades do meio têxtil e gráfico, aliando tecidos como etoile, tule e voil para representar a fragilidade de transparência da pele. A cartela de cores da coleção de estampas foi extraída diretamente da derme de voluntários criando uma gama única e real de pigmentações para a coleção.
Vai ser difícil ser jurada…SUCESSO A TODOS!!!