Lacan uma vez disse que a relação sexual não existe. Simples assim. Mas em tempos de Tinder e relacionamentos relâmpagos, ela é a única coisa que nos resta. Ou não?
Já faz algum tempo que tenho falado que os relacionamentos estão cada dia mais superficiais e tudo está fácil demais. Até demais. E fiquei intrigada com a tal frase de Lacan, sobre a inexistência da relação sexual. Pesquisando, o que veio a tona é que as pessoas não se conectam. Meio “os corpos se entendem, mas as almas não”, já que a frase original de Lacan, “Il n’y a pas de rapport sexuel” pode ter dois significados: A palavra rapport, que normalmente é traduzida como relação, pode ser também colocada como complementaridade. Ou seja: ninguém é a tampa da panela de ninguém.
Isso não quer dizer que não seremos felizes no amor, mas que teremos sempre relações imperfeitas. E relações sexuais em que o cara está de olho no jogo da televisão e a mulher pensando em qual será a sua próxima aquisição da Schutz. Já aconteceu com você? Comigo também. Como não existe uma fórmula mágica para que tudo dê certo, inventamos a linguagem para tentar descrever os relacionamentos. Ou temos DR`S enfadonhas, em que nada é mudado. Ficamos frustrados, mas o medo de ficar sozinho faz com que em que a gente tape o sol com a peneira quando os pequenos defeitos viram quase atrocidades.
E desistimos. Partimos para o sexo sem compromisso, sem hora e nem por que. E isso independe até do status de relacionamento no Facebook ou da aliança grossa na mão. Sexo vira hobby, programa, diversão. Pode ser feito a dois, três ou em uma grande confusão. Nos tornamos apenas corpos sem emoção?
Talvez não. Ainda tem gente que não desiste nunca e que faz “dar certo” buscando ajuda em mais linguagem. É quando surgem aqueles livros que falam a respeito de “Casais felizes”, “Eles gostam disso e elas daquilo”, “Os homens são de Marte…” e por aí vai. Afinal, tentar explicar o amor é a maneira mais fácil de nos aproximarmos desse grande enigma. Falar sobre as 10 maneiras de ter um casamento feliz é ser um pouco Deus. E talvez nem ele tenha as respostas. Afinal, homens e mulheres são tão distintos, reagem de maneiras tão diferentes que a insistência no sexo só pode ser explicada pelo puro e simples tesão.
Mas ter uma relação sexual em que, pelo menos por alguns segundos, as almas estejam conectadas, é sim, o grande sonho dos amantes. Afinal, o ato em si é a parte fácil. Pode ser feito por completos desconhecidos, de maneira automática, mas ainda não inventaram nada mais excitante do que aquele toque exato e o sussurro perfeito na hora do gozo, que só aquela pessoa que realmente te conhece faz aflorar. Mesmo que seja por alguns segundos. É pleno.
Mas é claro que isso não basta, pois temos toda uma vida maluca além do sexo. A pele fica linda uns dois dias, os olhinhos brilham, mas todas as outras bobagens que rodeiam o relacionamento estragam até o mais perfeito peeling. A grande questão é que nada pode nos deixar plenos além de nós mesmos. Nem o sexo e nem o amor. Eles nos dão momentos de alegria, mas também muita dor e decepção. Antes de embarcar em um novo relacionamento, pense sempre na tal imperfeição. E tenha uma vida rodeada de amigos e objetivos, para ser feliz por si, completa em suas verdades e pronta para a diversão. Se você aceitar que estar ou não com alguém é apenas um up, tanto o sexo, como o amor, serão mais uma fonte de inspiração.
Interessante.