“Se conseguirmos estabelecer uma meta para formar um milhão de parteiras no nosso continente ao longo da próxima década, posso morrer sabendo que a experiência do parto e o sofrimento desnecessário de mulheres da África terão mudado para sempre.”
Enfermeira, parteira, ministra de seu país e uma ávida defensora dos direitos das mulheres, Edna Adan Ismail sobreviveu à violência, à prisão, à perseguição e a uma guerra civil para se tornar um dos nomes mais influentes nos círculos de poder africanos, há séculos marcados por machismo e preconceito. A luta de Edna ao longo de mais de meio século a transformou em uma das vozes mais respeitadas na Organização Mundial da Saúde e um ícone internacional da luta pela liberdade feminina.
Em oms, a jornalista Wendy Holden, autora de mais de cem livros, como Os bebês de Auschwitz, conta, ao lado de Edna, como esta mulher mudou a vida de milhares de meninas e mulheres, mostrando que, por mais difíceis que sejam os obstáculos, é possível mudar o mundo.
Filha mais velha de um médico que trabalhava dia e noite para salvar vidas no então empobrecido Protetorado da Somalilândia Britânica, um território esquecido no leste da África, Edna sofreu, ainda criança e com o consentimento da mãe, uma mutilação genital, prática até então comum em quase toda a África. O trauma causado pela experiência acendeu um sentimento em Edna de que era preciso fazer alguma coisa para que essa prática bárbara fosse proibida. Esse desejo fez com que convencesse o pai a enviá-la para a Inglaterra para estudar, e ela se tornou a primeira enfermeira obstetra de seu país.
Edna dedicou toda sua vida à luta contra a mutilação feminina e à busca por melhores condições de saúde para as mulheres. Vencendo todas as barreiras impostas pela sociedade opressora em que foi criada, ela se tornou a primeira ministra das Relações Exteriores da Somalilândia. Ao mesmo tempo que frequentava recepções com príncipes e presidentes, em seus atendimentos como parteira, Edna convivia com a dura realidade das mulheres e meninas de seu país, que eram obrigadas a lidar diariamente com agressões, miséria, mutilação de seus corpos e casamentos precoces. Ela fez com que o mundo voltasse os olhos para a dor dessas jovens e mudou não só a legislação da Somalilândia, como a de várias outras nações africanas.
Com seus próprios recursos e doações, Edna fundou um hospital feminino que oferece tratamento digno a essas mulheres e é referência internacional em partos humanizados. Lá, até hoje, aos 82 anos, ela realiza partos e forma novas gerações de enfermeiras obstetras, responsáveis por manter viva a mensagem de sua mestra.
Sobre as autoras:
Edna Adan Ismail nasceu na Somalilândia Britânica em 1937. Ela se formou em enfermagem, com especialização em obstetrícia, na Universidade South Bank, em Londres. Foi primeira-dama de seu país, ministra das Relações Exteriores e conselheira da Organização Mundial da Saúde. Construiu e atualmente administra um hospital que leva o seu nome, e, mais do que tudo, como a própria Edna gosta de enfatizar, ela é uma parteira.
Wendy Holden já escreveu mais de cem livros, grande parte deles sobre a vida de mulheres notáveis. Jornalista e ex-correspondente de guerra, é autora de Os bebês de Auschwitz, Minha aventura contra o Alzheimer, em coautoria com Chris Graham, e Cem milagres, com Zuzana Ruzickova, todos eles publicados pela Globo Livros.