Falar sobre comportamento humano é sempre um desafio, principalmente em um mundo tão massificado pelo marketing e todos os pré conceitos. O certo e o errado se tornam verdades absolutas e tudo que foge de um determinado “padrão” se torna errado.

 

E conversar sobre isso com pessoas mais experientes e com um olhar poético torna a missão de entender o diferente mais prazerosa. Há alguns dias atrás, um grande amigo me ligou dizendo ter ficado absolutamente chocado com uma mulher que, vestida de maneira exótica, chamou a sua atenção pelas ruas da cidade. Mas ela parecia tão feliz, tão segura, que o questionamento que se deu foi: Teria ela consciência dos seus trajes? Aquilo que ela se propôs a vestir era – de fato – bonito aos seus olhos?

Quando julgamos uma pessoa pela sua vestimenta, estamos colocando nela as nossas pretensões, perspectivas e verdades. Mas, nos esquecemos que cada um tem a sua maneira de enxergar o bonito e o não tão bonito assim. O que é adequado para mim, pode ser absolutamente brega para outra pessoa, apesar de todos os padrões já estabelecidos. E buscando mais fundo, “a ideia que aflora quando se reflete a respeito do que diz Mateus, capítulo 7, sobre o julgar o próximo, julgar as pessoas como o mocinho que julga, condena e executa, tudo passando numa cena só, com a rapidez das nossas inconsequências.”

Quando se trata de comportamento e apresentação pessoal, a maneira impiedosa de julgar não leva em conta o fato de que o outro é diferente de nós em suas preferências. Encurtando a história e falando de moda, nós não levamos em conta o fato de que a maioria das pessoas – senão todas – quer vestir-se bem. Ninguém compra uma roupa porque é feia, desajeitada e desconectada com o uso da tribo à qual pertence. As regras do bem vestir são aplicadas impiedosamente e cria ridículos discriminatórios impiedosos. Fato é que não apenas julga-se a roupa, mas se qualifica a pessoa segundo a maneira que está vestida. Os rótulos estão prontos para serem colados na testa da outra ou do outro. Mas a pergunta recorrente continua sendo: quando aquela pessoa entrou na loja para comprar uma roupa, ela escolheu, a seu critério, a mais feia? Claro que não. Ela estreou o vestido ou o terno com aquela certeza de quem sabe que está elegante e bem vestida. O resto fica por conta do nosso preconceito e da nossa mania de avaliar as pessoas pela aparência.”

E, entre tantas conversas, palestras e depoimentos, comecei a perceber que estamos longe de ter uma harmonia nesse quesito. Desde a roupa mais sensual que faz com que qualquer mulher seja rotulada de piranha, até as saias, usadas hoje por alguns homens e que estão causando frisson e estranhamento ao mesmo tempo. Para cada um deles, essa roupa é adequada e está de acordo com o seu mundo e os seus valores. Mas os sentimentos e as agressões que acontecem a partir desse posicionamento original não se restringem às palavras. Casos de mulheres que são estupradas pela pouca vestimenta ou homens agredidos por “roupas homossexuais”, realmente nos faz pensar o quanto somos atrasados e hipócritas. As novidades são bem vindas, desde que estejam de acordo com os nossos valores. E até religiosos criam campanhas contra roupas feitas para ambos os sexos dizendo que elas incentivam o homossexualismo. Oi?

Citando também Chanel, “A moda não é algo presente apenas nas roupas, a moda tem a ver com ideias, a forma como vivemos, o que está acontecendo.” E o que está acontecendo dentro de cada um, no nosso mundo, na sociedade, é o que mostramos em nossas roupas. Talvez o meu mundo mostre algo mais clássico, mas o mundo do meu colega de trabalho pode ser absolutamente colorido e criativo. Errado? Não. Apenas uma maneira diferente de ver o mundo.

Qual é a sua?