O Brasil está em 2º lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos. Em parte, a situação se deve ao transtorno dismórfico corporal, que acomete de 1% a 3% da população e leva cada vez mais pessoas a encarar a sala de cirurgia.
Para a cirurgiã plástica Ludmila Matos Ronchi, da Clínica Leger, a vaidade deve ser encarada como excessiva e prejudicial à saúde quando começa a ultrapassar os limites anatômicos do paciente.
“É importante estar bem psicologicamente. Cada um tem sua beleza, e saber aceitá-la está relacionado à autoestima”, afirma a médica.
Prova disso é que procedimentos de naturalização são cada vez mais frequentes em consultórios médicos.
“Pacientes que foram submetidos ao exagero, às vezes por erro do profissional médico, com resultado não desejado e pouco natural aos olhos de quem vê, procuram as clínicas para naturalizar o resultado artificial que obteve com determinado tratamento”, pontua o cirurgião Roberto Chacur, especialista no combate às celulites.
No último ano, o Instagram passou a banir filtros de cirurgia plástica do Stories devido aos impactos que eles tinham na autoestima dos usuários. Mas, até que ponto a aparência computadorizada e pouco realista está influenciando a vida real das pessoas?
Essa e as principais dúvidas sobre o assunto, Ludmila Matos Ronchi e o Roberto Chacur respondem a seguir. Confira:
A partir de que ponto a vaidade deve ser tratada como excessiva e prejudicial à saúde?
Isso acontece quando o paciente começa a querer mudanças que são desproporcionais ao seu próprio corpo e sua anatomia. Não vale a pena se submeter a procedimentos invasivos ou agressivos em prol de um resultado estético.
Conhecido como vigorexia, o transtorno dismórfico muscular é a incompatibilidade entre o corpo de uma pessoa e a imagem que ela tem de si própria. Ela é motivada por padrões de beleza que, de forma excessiva, cultivam o corpo sarado e gera frustrações. Como identificar esse problema e o que fazer?
A vigorexia é fácil de identificar quando a pessoa está em uma busca incessante, constante e inatingível por um corpo definido, com padrões musculares. Em prol disso, ela acaba prejudicando a própria saúde. Nesses casos, é preciso entrar com um tratamento psiquiátrico associado, porque o paciente tem um transtorno corporal de imagem e isso está ligado a fatores psicóticos e psiquiátricos. É importante alertar que a primeira consulta médica precisa ser muito detalhada, para que o especialista observe o comportamento, o modo de pensar e a “tribo” em que esse paciente está inserido. O conceito de beleza e o objetivo de cada paciente variam muito conforme o grupo do qual ele faz parte.
Recentemente, o cantor Lucas Lucco passou por um processo de desarmonização facial e alegou que se olhava no espelho e simplesmente não conseguia enxergar seus traços. Todos os procedimentos estéticos podem ser revertidos?
Não, nem todos os procedimentos estéticos podem ser revertidos. A abdominoplastia é um exemplo de cirurgia que não tem reversão. Por isso, é muito importante que todos os procedimentos estéticos sejam realizados de maneira consciente pelo paciente e pelo médico.
Padrões de beleza existem há séculos, mas atualmente há uma fixação por uma aparência computadorizada e pouco realista no Instagram. As maçãs do rosto estão saltadas, o nariz afinado, a boca e os olhos maiores. Os filtros do Instragram estão influenciando a aparência das pessoas na vida real?
Sim, os filtros do Instagram estão gerando um transtorno de imagem e influenciando a aparência das pessoas na vida real. Uma vez que elas se veem naquela imagem, se acham mais bonitas e querem um resultado parecido. Com isso, vão em busca da boca maior ou da maçã mais saltada. Cabe ao bom profissional identificar se o procedimento é compatível, se realmente vai deixar o rosto mais harmônico ou vetar a intervenção e encaminhar o paciente para uma avaliação psicológica.
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