Clichê, no sentido figurado, é uma ideia já muito batida, uma fórmula muito repetida de falar ou escrever, um chavão. Etimologicamente, a palavra clichê tem origem no francês cliché.
E no mundo de hoje, clichês existem porque o repetimos a exaustão, querendo ou não. Expressões, gestos, maneiras de agir que mostram a falta de criatividade e o apego a conceitos antigos.
E um dos clichê mais bestas acontece na hora da conquista. Formas de seduzir e fazer com que a gente se sinta quase forçada a algo devido a armadilhas é um clichê tão antigo quanto o machismo. Pagar o jantar, abrir a porta do carro, levar em um lugar bacana acabam se tornando formas de sedução. E deveriam ser consideradas apenas ações do velho e bom cavalheirismo.
Me impressiona saber que existem homens que acreditam que o combo: carro de luxo – jantar caro- desculpa esfarrapada para ir na casa – funciona. Ok, existem as Marias Gasolinas. Concordo que um belo jantar é algo sedutor, principalmente acompanhado de um bom vinho e excelente conversa. Mas a tal desculpa esfarrapada para conseguir uma transa como sobremesa ainda me impressiona. Pior é quando o cara se denomina nosso namorado. Tem coraçãozinho fraco que não guenta…
Mas porque será que isso é tão cercado de tabu? Dá para fazer uma coleção de frases feitas e ridículas nessa hora:
-Vamos lá em casa ouvir uma musica…
-Vamos ver um filme abraçadinho…
-Vamos conhecer o meu cachorrinho!
-Tem um vinho lá em casa que não tem em nenhum restaurante!
E por aí vai…
Tem como alguém cair nessa? Pelo que já entendi, isso é – sim -um código para nada mais do que o sexo. Desde sempre. E até hoje, em frases feitas ditas por babacas de meia idade. E aí, o sexo rola e tudo se finda por aí. Viramos mais uma conquista que caiu no velho clichê. E fim.
Mas vamos inverter a história: Como um homem reagiria se agíssemos como canalhas? Pagássemos um belo jantar, oferecêssemos o vinho e depois, apenas o conduzisse para um motel ou outro canto qualquer com uma frase feita e um único objetivo? Como se fosse um ritual de acasalamento previamente estabelecido pelas leis arcaicas da sedução. E depois do ato em si, ao invés de virar para o canto e dormir, vestiríamos a calcinha e iríamos embora sem ao menos um tchau.
Nada contra o sexo pelo sexo, já até o defendi aqui. O que me irrita é o rodeio para algo natural e simples. Se os dois querem, o clima rola, pra que colocar rótulos ou fingir que a intenção é outra? Será que temos um déficit de sinceridade? Ou será que simplesmente somos levados a criar uma atmosfera de confiança para manipular sentimentos?
Nesse clima de inverdades, o joguinho rola solto e a imaturidade reina. Claro que não quero um homem que chegue e fale simplesmente:
– Vamos transar?
Mas realmente prefiro alguém que seja sincero e mostre a que veio do que um homem que se porte como cavalheiro e seja na verdade um canalha. Podemos estabelecer relacionamentos de vários níveis dependendo do que cada um quer. Sem rodeios. Do alto dos meus 42 aninhos, sou adepta da verdade. Ela machuca menos.
No fim, queridos, gato escaldada tem medo de água fria. E limite é a gente quem dá. Por mais homens sinceros…e difíceis!