Desde 1911, quando mais de 100 operárias morreram carbonizadas no incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York, mulheres do mundo todo se mobilizam pelos seus direitos. Seja contra as 15 de horas de trabalho e os salários miseráveis da época, seja pelo direito ao voto ou pela simples opção de falar não. Somos mulheres e queremos respeito!
E hoje, passado mais de um século dessa data crucial, percebemos ao longo da história acontecimentos fundamentais para o nosso crescimento e visibilidade. Sim, pois já fomos invisíveis. Já nos foi negado o voto, o prazer, a voz, a liberdade, a alegria.
Nossas lutas são constantes e diárias. Desde o final do século 19, organizações femininas protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. Hoje, em países como China e Índia, mulheres enfrentam condições sub humanas de trabalho, colocando em risco a própria vida e a dos filhos.
“O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. Hoje, além da luta por salários iguais, pedimos pelo respeito e direito de usar o que quisermos em qualquer lugar.
Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações. ”
“Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra – em um protesto conhecido como “Pão e Paz” – que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.
Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o “8 de março” foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.”
“O episódio conhecido com Bra-Burning, ou em português ‘a queima dos sutiãs’, foi um protesto com cerca de 400 ativistas do WLM (Women’s Liberation Movement) na realização do concurso de Miss America em 7 de setembro de 1968, em Atlantic City, EUA.
Com o objetivo de acabar com a exploração comercial realizada contra as mulheres, as ativistas se aproveitaram do concurso de beleza que era tido como uma visão arbitrária e opressiva em relação às mulheres. Assim, elas colocaram no chão do espaço, sutiãs, sapatos de salto alto, cílios postiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas, espartilhos, cintas e outros objetos que simbolizavam a beleza feminina.
Embora a ‘queima’ propriamente dita nunca tenha ocorrido, a atitude das manifestantes foi incendiária. Este nome “queima dos sutiãs” foi dado pela mídia.”
Ou seja: “Queimamos soutiens”, conquistamos altos cargos, ganhamos a pílula e o direito ao prazer. Mas tudo isso ainda caminho a passos lentos. Se somos expansivas demais, somos putas. Se reservadas, somos taxadas de recalcadas. O homem ainda nos avalia pelo passado para sabermos se teremos um futuro com ele. Somos objetos?
“O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países”, explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinas (Unicamp).
“No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.”
No último carnaval, presenciamos o movimento #tiraamão, contra os engraçadinhos de plantão. Muito ainda tem que ser feito. Em um mundo em que morremos pelo simples fato de ser mulher, não podemos permanecer caladas. O corpo é nosso, as consequências dos nossos atos também. Enquanto formos avaliadas pelas curvas e não pela inteligência e capacidade, estaremos vivendo em um mundo doente.