Para arrumar um bom partido

Logo que nasci, meu avô fez uma prece:
– Que minha neta consiga um bom casamento.
Isso em 1974, quando as mulheres ainda dependiam um pouco dos homens para terem uma vida satisfatória. Meu avô – muito infelizmente – faleceu meses depois e não teve como observar as desventuras da neta em busca do tal bom partido.

Quando me tornei adolescente, bom partido eram os meninos riquinhos dos colégios particulares. Eu sempre estudei em escolas públicas e só tinha acesso a essa classe nas festas dos meus primos. Lembro uma vez que a minha tia quase me empurrou pra cima de um dos herdeiros da Andrade Gutierrez. Simplesmente ignorei. Menino chato!

Um pouco mais velha, escutava que bom partido eram advogados, médicos, engenheiros ou algum funcionário do Banco do Brasil. As profissões ainda estavam em alta e ter um emprego seguro era como acertar na loteria. A comunicação apenas despontava como uma área promissora e ainda éramos vistos como artistas doidões. Experimentei alguns deles. E me decepcionei com todos.

E tive até a chance de dar um “golpe do baú”, com um fã de Brasília que chegou até a mandar passagem para que eu fosse pra lá. Me mandava flores, poemas,mas não me comovia. Não sentia nada por ele e simplesmente não rolou. E entendi que não sou movida a dinheiro.

Me casei e me relacionei de maneira mais séria com pessoas como eu. Com um emprego comum, grana para viver sem nenhuma ostentação e só. Mas sempre com amor. Mesmo não tendo dado certo, o começo sempre envolvia sentimento, nunca interesse. Nada contra pessoas que tem uma situação super privilegiada. Já me diverti com alguns. E não tenho nada a reclamar.

Mas hoje entendo que bom partido é aquele que tem o beijo que arrepia. Que faz nosso coração pular só com uma mensagem no whatsapp. Que anda de mãos dadas e ainda nos coloca no lado que não é o da rua. Que tem conversa boa para noites inteiras e fôlego suficiente para todos desejos. Que pode até pagar uma conta de restaurante, mas tem sorriso fácil para carrinhos de cachorro quente. Que te faz companhia em noites de eventos ou simplesmente para um filme/edredom/pipoca.

Bom partido é aquele que encaixa na alma.