Hoje ouvi uma notícia que conseguiu me indignar logo cedo. Evito o noticiário pela manhã, pois acho que precisamos ter um pouco de calma para começar o dia, nem que seja uma calma ilusória. E bem no dia da paz, eis que me deparo com essa:

“Para um terço dos brasileiros, culpa de estupro é da vítima.”

E aí vem toda uma cultura – não do estupro, prefiro mesmo não acreditar nisso – de que a mulher pede por sexo a partir do momento que usa roupas insinuantes. Mas o que seria uma roupa insinuante? De acordo com Ricardo Boechat – sou sua fã! –  depende da loucura e da cultura do agressor. Um islâmico vai achar provocante qualquer coisa que não seja uma burca, da mesma forma que, no posto 9, em Copacabana, nada será insinuante demais no meio de tantos corpos quase nus.

E ai, como vamos nos proteger de pessoas que não tem o mínimo de respeito por outras pessoas? Sim, pois o estupro não é uma violência realizada apenas contra mulheres, mas também contra homens. Ok, isso não acontece a cada 11 minutos, mas acontece. Ah,sim: UMA MULHER É ESTUPRADA A CADA 11 MINUTOS NO BRASIL. Será que todas estavam rebolando de mini saia? Claro que não. Existem relatos de mulheres que foram estupradas dentro de casa, talvez usando pijama de moletom furado. Sexy?

E é exatamente essa falta de porque que faz com que todas nós tenhamos um medo imenso de que aconteça algo, em qualquer hora e local do dia. Tanto que já existem movimentos como o “Vamos juntas?” que visa proteger a integridade física da mulher, promovendo o encontro de duas ou mais para que possam andar em segurança pelas ruas. É um sopro no meio de tanta desilusão.

Mas, da mesma forma que mais de 80% temem um estupro – chegando a 90% na região nordeste – 32% dessas mesmas mulheres acreditam que “mulheres que se dão ao respeito não merecem ser estupradas.” Isso foi um soco no meu estômago.

E aí, vou contar um episódio que aconteceu comigo, em pleno Revéillon em Caraíva. Estava usando um short e um top NA PRAIA quando um indivíduo se achou no direito de passar a mão na minha bunda. Sem a menor cerimônia, sem se constranger com todas as outras pessoas – principalmente meu ex namorado – presentes e sem tirar o sorriso cínico no rosto quando me virei com a mão fechada para me defender.

Depois do susto, voltei para onde estava a minha turma e o que eu ouvi, exatamente, do meu EX namorado foi a seguinte frase:

– Mas também, você não se dá ao respeito!

E aí eu lhe pergunto: O que é se dar ao respeito?

Eu estava com uma roupa super condizente com o local. Não estava com a barriga de fora na Praça Sete – o que também não justificaria – nem ao menos nua andando na calçada. O que também não justificaria NENHUMA INVESTIDA DE NINGUÉM.

Lógico que o namoro terminou por ali, mas voltei me questionando como é ser uma mulher que se dá ao respeito na mente desses homens que acham que merecemos uma agressão, um assédio e até mesmo um estupro. Sou mãe de dois filhos, tenho muito cuidado com as roupas que uso nos vários ambientes em que frequento – trabalho requer alguns cuidados, eventos outros – e, em momento algum, me achei merecedora daquele ato.

E o pior: Naquele lugar, se eu estivesse desamparada ou se ele me arrastasse para outro local, poderia ter acontecido um estupro. Eu teria pedido por isso? Como? Só por estar com uma roupa que, na mente daquele homem, era insinuante? E afinal, o que é ser insinuante?

Imagino que, quando uma mulher quer se insinuar para um homem, não é exatamente com o intuito de ser estuprada, concordam? Lógico que podemos querer um algo a mais, claro que buscamos agradar e seduzir o homem que está conosco por que também temos direito ao prazer. Mas nada que não tenha o consentimento de ambas às partes pode ser considerado prazer.

E não falo só do estupro, mas de agressões – físicas e verbais – que nos remetem ao tempo em que a mulher era apenas um objeto sem poder de escolha ou voz. Éramos usadas para fins que os homens julgavam corretos e ponto. Prazer? Não era da nossa alçada.

Mas parece que esse direito ainda nos é negado, na mente tacanha de pessoas pequenas. Podemos ser seduzidas, mas não podemos ser sedutoras? Temos direitos iguais no trabalho, obrigações legais em todas as instâncias de formas igualitárias, mas não temos o direito de usar uma roupa “insinuante” sem sofrer represálias? No século…hummm…XXI????

E completo com o grande Boechat: “Esses homens que acham que as mulheres merecem ser estupradas por que não “se dão ao respeito” deveriam pensar nas suas filhas, mães e irmãs. Será que elas usam burca para irem à praia? Será que elas não usam biquínis, mini saias? Será que eles acham que elas também são merecedoras de estupro???”

 

PARA LER:http://www.stellaflorence.net/

 

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