Já falei várias vezes em meus textos que acho uma delicadeza homem abrir a porta do carro, dar lugar no restaurante e pagar a conta. E esse “pagar a conta” não deve ser entendido como uma regra, mas como uma gentileza pontual. Um agrado em uma ocasião festiva ou para comemorar um ganho extra, por exemplo. E isso também serve para as mulheres. Já paguei conta de motel e ofereci jantares. E daí?

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Dividir a conta é a regra, quando os dois recebem mais ou menos a mesma coisa e podem dispor da quantia em questão e em comum acordo. Já tive que pagar algumas contas quando um namorado estava desempregado e já tive várias contas pagas quando estava na mesma situação. Acho que ele pode ter se sentido mais inferiorizado por questões culturais óbvias, ter ficado com o ego ferido, mas também não me senti confortável em depender – algumas vezes – do outro.

Mas em nenhuma desses momentos me senti obrigada a nada nem obriguei o outro a fazer algo que não quisesse. Nesses momentos. Infelizmente, em outros, algumas pessoas se acharam no direito sim. Como se o fato de pagar um jantar desse direito a “sobremesa”, de maneira bem obscena. Tudo bem que é uma mentalidade ogra, mas existe.

E lendo um texto fantástico da Folha ontem, percebi que existem várias outras questões subliminares e uma sutileza má. Como se uma mulher reforçasse, ao aceitar que o homem pague a sua conta, a sua condição inferior de receber menos. Afinal, ter um emprego digno e uma certa independência te dá maior autonomia, mesmo que seja para fugir em um táxi. E isso serve para os dois lados. Afinal, abusos e estupros são cometidos contra homens também.

Falar que “quem recebe fica rendido” e que “ninguém dá dinheiro de graça” é muito agressivo. Estar em boa companhia e ainda esperar algo em troca é sujo. Posso ser inocente, mas ainda acredito na gentileza. E na igualdade. Será que sou só eu?

Unindo os pontos, terminei a leitura de um livro lindo que se chama “Eu me possuo”. Nele é contada a história de superação de uma mulher que sofreu estupro e todas as culpas e questionamentos derivados dessa situação. E algo me chamou a atenção: A partir do momento que vou para a casa de um homem, sou obrigada a transar? Ele pode se sentir no direito de forçar algo? Qual é a moeda de troca presente nesse momento? O fato de sentir desejo por alguém me obriga a aceitar?

E, mesmo com todos os avanços e conquistas, ainda existem tantas mulheres que aceitam ser sustentadas e humilhadas apenas para ter um status. Se casam, procriam, ignoram traições e posam de esposa feliz para garantir as viagens para Europa e roupas de grife. Elas engrossam uma fileira de comportamentos que alimentam a maneira turva que os homens acabam por nos enxergar.

E entre tantos limites tênues, entendo que ninguém é obrigada a nada, nem homens e nem mulheres. Se recebo mais do que um homem, não posso humilhá-lo e nem ao menos seduzi-lo por ter um certo poder. E gostaria mesmo que as mulheres entendessem, de uma vez por todas, que felicidade não é estar ao lado daquele que lhe cobre de presentes, mas sim, daquele que lhe tira o fôlego!

NOTA: Se for para dividir motel, que os dois gozem!